Faísca e Dirceu, amigos do peito.

MATERIA DIRCEU NOME QUE FALAMOS COM ORGULHO

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por José Márcio Castro Alves

Dirceu Meirelles Ferreira (1923-2010) foi um homem querido e amado por todos. Ídolo da sua geração e tido como o maior jogador de futebol da sua época (bota valia nisso), possuía o carisma dos iluminados e a educação dos sábios, espelho do pai Joaquim Ferreira. Fiel às suas amizades, Dirceu era o rei quando chegava e a saudade quando partia. Gostava de visita e adorava visitar, de sentar com as pernas cruzadas expondo sempre um calçado lustroso a combinar com a vestimenta impecável, personalíssima. Nunca o vi de roupa surrada. Sempre de carro novo e barba feita, alinhado na simplicidade de roupas finas que não chamavam a atenção. Os irmãos do Dirceu sempre foram a sua réplica. Tanto o Ciro como o Hélio, chapéus vistosos, de bota ou polãina, bem aprumados, corpos atléticos e altivos. Pareciam-se, mesmo de longe. Nunca os vi fora do peso. Sempre iguais, os três irmãos.
Nos dez anos que moramos no Rancho Iza, um sítio em Campinas, os irmãos Ferreira e os Meirelles Alves de Tambaú estavam sempre nos visitando. Muitíssimos outros parentes e amigos também não saíam de lá. Dias, eram as visitas.
Mais tarde, por vinte anos moramos na rua Rui Barbosa, em Ribeirão Preto. Não me lembro de uma semana sequer que o Dirceu não fosse ver meus pais. Tinha adoração pelo Faísca, o Flávio de Figueiredo Alves, seu afilhado de casamento e amigo desde o nascimento. Os irmãos do Dirceu Ferreira, também tinham grande amizade e apreço pela nossa casa. Nunca faltaram. Conheci os três irmãos Ferreira desde que nasci.
O Dirceu lembrava o meu avô Fábio Meirelles Alves, também muito amigo dele. Altos e vistosos, quando chegavam todo mundo fazia a roda pra saber o que conversavam. Ouvia meu pai contar as façanhas da mocidade em que os personagens centrais de Altinópolis eram o Dirceu, o Bolão Vicentini, os amigos ligados ao futebol e coisas da roça, o Ciro Ferreira e alguns parentes do lado Figueiredo. Os primos Meireles Alves de Tambaú, Edvar, Ednand, Juca, e Samuel não saíam da nossa casa. Os primos Figueiredo Rosa de Franca, José Amélio, Tonho Rosa e Luizinho, sempre nas histórias de futebol e pescaria. Meu pai também os visitava, quase que mensalmente, tanto os de Franca como os de Tambaú. Tinha adoração por eles, os verdadeiro amigos até a sua morte.
--- Ô, Diceu, dizia meu pai. Ele não falava Dirceu. Falava Diceu.
Nos tempos de moço, meu pai contava, o Dirceu tinha uma Baratinha (carro da época) e era quem dava carona aos bailes. Estrada de terra até Franca ou Tambaú, chuva, encravadouros sem conta. Bancava também a conta, muita vez.

A História vem de longe.


Ao volante, Joaquim Ferreira. No carona, o concunhado Lilito Meirelles Alves. De bengala e fumando charuto, Fábio Meirelles Alves. Assim era a praia na década de 1920.
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Meus avós paternos, Fábio Meirelles Alves e Jacyntha de Figueiredo Alves, moravam na fazenda São Bento, de propriedade deles, praticamente ganhada de uns parentes Meirelles que criaram meu avô, órfão desde a primeira infância. Meu pai e todos os quatro irmãos, Cleide, Gilda Celso e Marilda, nasceram na fazenda São Bento. Foi o berço do meu pai e uma marca em toda a sua vida. Ao final da década de 1940, o Joaquim Ferreira (padrinho de batismo do Faísca) e o contra parente João Meirelles, irmão do Antônio Josino Meirelles, acertaram a compra da fazenda Parnaíba, no município de Jardinópolis, para os meus avós Fábio e Jacintha. Em troca, a fazenda São Bento, vizinha da fazenda Jatobá, do Joaquim Ferreira, ficaria com o filho mais velho Dirceu Ferreira. Assim se fez e meu avô Fábio mudou-se para Ribeirão Preto.
Nós, os três primeiros filhos do Faísca e Cidinha, Antonio Flavio, José Márcio e Ângela, nascemos em Altinópolis com meus pais morando já na fazenda Parnaíba. Daí a ligação muito forte do meu pai com Jardinópolis e Brodowisk, repleta de italianos. Meu pai adorava os italianos. Na fazenda e no futebol da Parnaíba tinha italianos em penca. Leonis, Pedersolis, Pavanelis, Brigliadoris, Celeste, Brunellis, Vercezis, Skossafavi. Nunca vi tanta pinga na minha vida. Bebiam aos garrafões. Risadas e causos infindáveis de futebol, circo, baile na roça, música e lavouras mil.
Assim foi a vida de meu pai, amigo e fã número um do Dirceu Ferreira, de quem recebeu muito e também deu a ele tudo que tinha, até o que não tinha. Dirceu Ferreira, uma cópia do pai Joaquim Ferreira, este relembrado no vídeo abaixo pelo ex empregado e compadre, Coimbra Damazio Zucollotto, numa entrevista concedida aos 91 anos num asilo em Ribeirão Preto, sua última morada.